Não tentes enterrar a dor: estender-se-á pela terra, sob os teus pés; infiltrar-se-á na água que tenhas de beber e envenenar-te-á o sangue. As feridas fecham-se, mas ficam sempre cicatrizes mais ou menos visíveis que voltarão a incomodar quando mudar o tempo, lembrando-te na pele a sua existência e, com ela, o golpe que as originou. E a recordação do golpe afectará as decisões futuras, criará medos inúteis e tristezas vis, e crescerás como uma criatura apagada e cobarde. Para quê tentar fugir e deixar para trás a cidade onde caíste? Pela vã esperança de que, noutro local, num clima mais benigno, já não te doerão as cicatrizes e beberás uma á gua mais limpa? Em teu redor erguer-se-ã o as mesmas ruínas da tua vida porque, para onde quer que vás, levarás a cidade contigo. Não há terra nem mar novo, a vida que não aproveitaste ficará por aproveitar em qualquer parte do Mundo...
Lucía Etxebarría, in 'Beatriz e os corpos celestes'
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