SUBLINHADOS PARA TI

com a esperança da cor Verde, o que eu sublinhei enquanto dormias...

quinta-feira, agosto 18, 2005

O dia nasceu sobre a noite e a noite continuou sob a luz cinzenta desta manhã. A noite feita com formas de fumo e de nevoeiro. Quando ainda era mesmo de noite e estavas ao meu lado, disseste: não podemos ser felizes. Eu desejava-te tanto. Eu via os teus olhos através do ar da noite, sabia que estavas a meu lado e sabia que nos íamos separar. Vi-te partir. Os teus passos a afastarem-se de mim. Eu estava parado perante o horror, o medo. Tu afastavas-te de mim. Entravas em casa, como se saísses para sempre de mim. Saías para sempre de mim. O momento em que fechaste a porta: eu soterrado por todo o negro, todo o veneno negro. Um faca infinita. Eu a perceber que ficarás para sempre fechada dentro dessa casa. Nunca, nunca mais poderás sair.(...)Eu sabia que nunca mais te voltaria a ver. Eu desejava-te ainda. Agora, desejo-te ainda. Sei que existem cemitérios. Sei que a casa onde estás, o lugar onde te imagino a fazer tantas coisas, a não te lembrares de mim, é um lugar de destroços. Vivemos rodeados de cemitérios. Aquilo que fomos está enterrado à nossa volta e nunca poderemos saber onde deixámos tudo aquilo que não voltaremos a ver.

José Luís Peixoto