Todo o amor do mundo não foi suficiente porque o amor não serve de nada.
Ficaram só os papéis e a tristeza, ficou só a amargura e a cinza dos cigarros e da morte.
Os domingos e as noites que passámos a fazer planos não foram suficientes e foram demasiados porque hoje são como o sangue no teu rosto, são como lágrimas.
Sei que nos amámos muito e um dia, quando já não te encontrar em cada instante, em cada hora, não irei negar isso.
Não irei negar nunca que te amei. Nem mesmo quando estiver deitado, nu, sobre os lençóis de outra e ela me obrigar a dizer que a amo antes de a foder.
Ultimamente não consigo dormir e não consigo acordar.
Ontem, já muito de noite nas horas em que posso estar ainda mais sozinho, sentei-me ao lume e lembrei-me de quando ficávamos juntos à porta da tua avó e para as pessoas que passavam éramos namorados. Dizíamos conversas só nossas e às vezes beijávamo-nos.
Sentei-me ao lume e pensei no teu corpo quando te abraçava e pensei que talvez naquele momento um homem estivesse a ter prazer dentro de ti.
Hoje sentei-me parado com as mãos paradas, com o rosto parado e lembrei-me da tua pele tão suave, dos teus dedos bonitos, dos teus olhos de menina e penso que talvez neste momento esteja um homem a ter prazer dentro de ti.
José Luís Peixoto, in 'A criança em ruínas'
1 Comments:
:)
gosto deste também.
Paula
reciprocidades.blogspot.com
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