SUBLINHADOS PARA TI

com a esperança da cor Verde, o que eu sublinhei enquanto dormias...

quarta-feira, agosto 31, 2005

Deixei de te ver. Não há luz sequer. A noite cai. Como se fosse uma pessoa, a noite cai.

Eu tenho os olhos feridos, tu nem olhos tens. Tens só o sítio onde eles se rasgam, um começo.


Adap.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória a luz e o brilho do teu ser,
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.


Sophia de Mello Breyner Andressen

quinta-feira, agosto 18, 2005

Era eu a convencer-te que gostas de mim, tu a convenceres-te que não é bem assim. Era eu a mostrar-te o meu lado mais puro. Tu a argumentares os teus inevitáveis. Eras tu a dançares em pleno em dia, e eu encostado como quem não vê. Eras tu a falar para esconder a saudade, e eu a esconder o que não se dizia. Afinal quebrámos os dois. Afinal quebrámos os dois. Desviando os olhos por sentir a verdade, juravas a certeza da mentira, mas sem queimar demais. Sem querer extinguir o que já se sabia. Eu fugia do toque como do cheiro, por saber que era o fim da roupa vestida que inventara no meio do escuro onde estava por ver o desespero na cor que trazias. Afinal quebrámos os dois…Era eu a despir-te do que era pequeno, tu a puxares-me para um lado mais perto, onde se contam histórias que nos atam ao silêncio dos lábios que nos matam. Eras tu a ficar por não saberes partir, e eu a rezar para que desaparecesses. Era eu a rezar para que ficasses, tu a ficares enquanto saías. Não nos tocámos enquanto saías. Não nos tocamos enquanto saímos. Não nos tocamos, e vamos fugindo porque quebramos como crianças. Afinal. Afinal quebrámos os dois.
É quase pecado o que se deixa.
É quase pecado o que se ignora.


Toranja in 'Quebrámos os Dois'

O dia nasceu sobre a noite e a noite continuou sob a luz cinzenta desta manhã. A noite feita com formas de fumo e de nevoeiro. Quando ainda era mesmo de noite e estavas ao meu lado, disseste: não podemos ser felizes. Eu desejava-te tanto. Eu via os teus olhos através do ar da noite, sabia que estavas a meu lado e sabia que nos íamos separar. Vi-te partir. Os teus passos a afastarem-se de mim. Eu estava parado perante o horror, o medo. Tu afastavas-te de mim. Entravas em casa, como se saísses para sempre de mim. Saías para sempre de mim. O momento em que fechaste a porta: eu soterrado por todo o negro, todo o veneno negro. Um faca infinita. Eu a perceber que ficarás para sempre fechada dentro dessa casa. Nunca, nunca mais poderás sair.(...)Eu sabia que nunca mais te voltaria a ver. Eu desejava-te ainda. Agora, desejo-te ainda. Sei que existem cemitérios. Sei que a casa onde estás, o lugar onde te imagino a fazer tantas coisas, a não te lembrares de mim, é um lugar de destroços. Vivemos rodeados de cemitérios. Aquilo que fomos está enterrado à nossa volta e nunca poderemos saber onde deixámos tudo aquilo que não voltaremos a ver.

José Luís Peixoto

sexta-feira, agosto 12, 2005

Gostava de saber porque te amo nesta forma estranha de te não ter amado nunca.

Vergílio Ferreira

quarta-feira, agosto 03, 2005

Não vale a pena...

Ódio?
Ódio por ele? Não... se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se à vida assim roubei todo o encanto...

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Como um soturno e enorme Campo Santo!

Ah! Nunca mais amá-lo é já bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante!
Como se fora meu, calma e serena!

Ódio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda.
Ódio por ele? Não ... não vale a pena...

Florbela Espanca