Se houvesse uma única verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema.
Pablo Picasso
com a esperança da cor Verde, o que eu sublinhei enquanto dormias...
Regressamos sempre aos velhos lugares onde amámos a vida. E só então compreendemos que não voltarão jamais todas as coisas que nos foram queridas. O amor é simples, e a vida devora as coisas simples.
És agora uma fotografia ao lado da minha insónia. Uma memória que me fala sobretudo, como todas as memórias, daquilo que não existiu. Nesta fotografia te esqueço. Meticulosamente, de cada vez que me esforço por reter-te e começo a inventar-te. Tudo em ti tem asas, agora - o te riso, os teus passos. Até nas poucas frases de que de ti recordo há um restolhar de penas. E deslizo para esta solidão demasiada humana de não poder voltar a ser sozinho, como era quando tu existias, nesta mesma cidade, e eu já nem sequer pensava em ti.
A nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante, superior a todas as históricamente conhecidas. Mas assim como o seu formato é maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela tradição. É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo mais problemática. Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu próprio destino.
Rasga esses versos que eu te fiz, Amor!
Eu, porém, vos digo que não jureis nunca a verdade, porque a verdade nua e crua, além de indecente, é dura de roer; mas jurai sempre e a propósito de tudo, porque os homens foram feitos para crer antes nos que juram falso do que nos que não juram nada. Se disseres que o sol acabou, todos acenderão velas.
O amor pertence a si mesmo, surdo às súplicas, imutável perante a violência. O amor não é uma coisa que se possa negociar. O amor é a única coisa mais forte do que o desejo, a única razão justa para resistir à tentação.
Estou aqui, como se te procurasse
Não tentes enterrar a dor: estender-se-á pela terra, sob os teus pés; infiltrar-se-á na água que tenhas de beber e envenenar-te-á o sangue. As feridas fecham-se, mas ficam sempre cicatrizes mais ou menos visíveis que voltarão a incomodar quando mudar o tempo, lembrando-te na pele a sua existência e, com ela, o golpe que as originou. E a recordação do golpe afectará as decisões futuras, criará medos inúteis e tristezas vis, e crescerás como uma criatura apagada e cobarde. Para quê tentar fugir e deixar para trás a cidade onde caíste? Pela vã esperança de que, noutro local, num clima mais benigno, já não te doerão as cicatrizes e beberás uma á gua mais limpa? Em teu redor erguer-se-ã o as mesmas ruínas da tua vida porque, para onde quer que vás, levarás a cidade contigo. Não há terra nem mar novo, a vida que não aproveitaste ficará por aproveitar em qualquer parte do Mundo...